Em busca de nós mesmos #004

Em uma fase em que minha depressão havia amenizado, senti vontade de buscar respostas novamente.

Entrei em contato com um programa do Hospital Universitário da USP, em parceria com a Universidade Mackenzie, voltado para pessoas com o meu perfil. Realizei os testes e, inclusive por meio de exames no fundo dos olhos, confirmaram que eu estava, de fato, em um estado depressivo. Sugeriram que eu poderia ser uma boa candidata à estimulação elétrica cerebral.

No entanto, essa técnica é recomendada para casos em que os medicamentos já não produzem efeito. Ao saber disso, decidi não prosseguir com o procedimento. 

Como permitir choques no meu cérebro se eu sequer havia tentado a medicação? Além disso, eu mesma reconhecia que minha dor não era apenas física, mas existencial. 

Na mesma época, eu fazia parte de uma terapia em grupo, da qual também acabei desistindo para seguir sozinha na busca por sentido. Não recomendo as escolhas que fiz, mas essa foi a minha trajetória.

Passei então a bater na porta da filosofia algumas vezes — e da neurociência, muitas outras —, tentando entender como alcançar um estado melhor. Fiquei com diversas compreensões em suspensão, sem muitas certezas, mas sem nunca desistir de buscar minhas próprias respostas.

Foi em uma dessas buscas que encontrei Pedro Calabrez e Clóvis de Barros. Passei a ouvir tudo o que publicavam, a ler seus textos e acompanhar suas ideias. Foi quando lançaram o livro Em busca de nós mesmos.

É curioso como a depressão atua, muitas vezes, afetando a memória — e como a perda da memória pode, por sua vez, agravar a própria depressão.

Sem querer ser técnica, e indo direto ao ponto: no meu caso, eu esquecia muitas coisas e, às vezes, fazia conexões entre ideias de forma considerada “estranha” pelos outros. Isso me rendeu algumas chacotas, inclusive de pessoas próximas. Ouvi diversas vezes que eu parecia esquizofrênica ou que talvez estivesse dentro do espectro autista. Mas, como eu sabia o quanto era difícil estar na minha própria pele, essas palavras não me atingiam mais do que a dor que eu já carregava. Curiosamente, essas pessoas não fazem mais parte da minha vida — o universo se encarregou de afastá-las.

Tudo isso para dizer que do livro não me lembro muita coisa, mas uma ideia lançada por esses autores no livro me serviu como degrau para continuar a melhorar meu estado.

Lembro-me de que a ideia que me ajudou era algo em torno de que mesmo que o corpo humano se desfaça, ele retorna ao universo, tornando-se parte da terra novamente, adubo para plantas ou alimento para os seres microscópicos responsáveis pela decomposição. Tudo volta ao seu lugar.

Essa visão me trouxe uma paz inesperada — e com ela, a vontade de continuar e me fortalecer.

Se a religião e as interações humanas que tive ao longo da vida me conduziram àquele estado de dor, foi justamente saber que, ao menos, meu corpo se reintegraria ao cosmos de alguma forma, que me devolveu uma sensação de pertencimento e serenidade.

Foram caminhos estranhos, mas ainda estou aqui — seguindo e contando a história...

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