Ártemis e Diana #0096
As duas faces da mesma deusa
Há muito tempo, Leto, a deusa da maternidade, filha de Titã Coio e Fébë, estava sendo perseguida por Hera, a rainha dos deuses. Isso se deu porque Zeus, marido de Hera, estava apaixonado por Leto e nesta relação extraconjugal a engravidou.
Enfurecida e enciumada, Hera decretou que nenhum lugar na terra firme permitiria que ela desse à luz. Leto, então, vagou pelo mundo, exilada e cansada, até encontrar a pequena ilha de Delos, que flutuava livremente no mar e estava disposta a acolhê-la.
Um dos episódios mais conhecidos de sua fúria ocorreu com o jovem Acteon. Ele, inadvertidamente, esbarrou na deusa enquanto ela se banhava nua em um lago escondido. Ártemis, enfurecida por sua imprudência, transformou-o em um cervo, e os próprios cães de caça de Acteon o perseguiram até a morte, cumprindo o destino que o havia alcançado por seu descuido.
Em outro mito, a soberba de Niobe trouxe sua ruína. Niobe zombou de Leto, afirmando que tinha mais filhos e, portanto, mais merecedora de reverência. Ártemis, em lealdade à mãe, lançou suas flechas precisas, ceifando todos os filhos de Niobe, mostrando que nenhum insulto à deusa passaria sem punição.
| Ártemis - Museu do Vaticano por Giuliana Fuganti, 24/set/2024 |
Ártemis encarnava a força da natureza: bela, implacável, livre e incorruptível, um símbolo de poder feminino que não se curvava às paixões dos mortais nem aos caprichos dos deuses.
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O mito de Diana....
Em tempos antigos, na Itália antiga, os povos latinos e etruscos reverenciavam uma deusa que reinava sobre florestas, animais selvagens e os mistérios da lua.
Seu nome era Diana, deusa da caça, protetora das mulheres e guardiã da pureza. Com o tempo, sua imagem se fundiu à de Ártemis, herdando sua destreza com o arco, sua ligação com a lua e seu amor pelos bosques, mas adquirindo uma presença mais ampla na vida dos mortais.
Embora compartilhasse com Ártemis a habilidade de punir aqueles que a desrespeitassem, Diana era vista de forma menos temível e mais protetora. Ela intervinha para ajudar as mulheres durante o parto e para proteger os inocentes, mas também guiava os caçadores e inspirava os mortais a viver em harmonia com a natureza. Sua influência se estendia às cidades e ao campo, e sua presença lembrava que a vida, seja selvagem ou civilizada, dependia de respeito e equilíbrio.
Em contraste com Vênus, que despertava os desejos e a paixão nos corações humanos, Diana ensinava a disciplina e o respeito pela vida e pela liberdade.
1. Ártemis (mitologia grega)
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Origem: Deusa grega, filha de Zeus e Leto, irmã gêmea de Apolo.
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Domínio: Deusa da caça, da vida selvagem, da lua, da virgindade e protetora das crianças e das mulheres em parto.
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Atributos e símbolos: Arco e flechas, veado, cão de caça, lua crescente.
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Função e caráter: Ártemis é associada à liberdade, independência e pureza. Era protetora da natureza e da vida selvagem, mas também podia ser vingativa quando ofendida.
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Culto: Havia templos e santuários dedicados a ela em várias cidades gregas, como Éfeso, onde o Templo de Ártemis era considerado uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo. Era invocada para proteção de crianças e jovens, bem como em rituais de caça.
Como deusa da caça, da lua e da virgindade, Ártemis tinha um culto marcado por normas bem rígidas, sobretudo quanto à pureza. Algumas dessas “leis sagradas” ou preceitos eram:
Castidade absoluta – Ártemis era virgem, e suas seguidoras (ninfas e sacerdotisas) também deviam manter-se castas. Quem violasse isso sofria punições (como Calisto, que foi transformada em ursa).
Respeito aos animais e à natureza – embora fosse deusa da caça, Ártemis também protegia animais selvagens e castigava caçadas desrespeitosas ou excessivas.
Proibição de ver a deusa nua – um tabu célebre: Acteão a viu banhando-se e foi transformado em cervo, sendo despedaçado pelos próprios cães.
Proteção das mulheres e crianças – era protetora de parturientes, e seu culto envolvia oferendas antes e depois do parto.
Sacrifícios rituais – em algumas cidades (como Esparta e Braurônio, na Ática), cultuava-se Ártemis com ritos específicos, incluindo provas de resistência e até flagelações rituais.
Não eram “leis civis”, mas sim normas míticas e rituais, que devotos e sacerdotes seguiam em honra à deusa.
2. Diana (mitologia romana)
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Origem: Deusa romana, considerada equivalente a Ártemis na mitologia grega, mas com traços adicionais ligados à agricultura e ao ciclo lunar.
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Domínio: Deusa da caça, da lua, da fertilidade, da virgindade e protetora das mulheres e dos animais selvagens.
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Atributos e símbolos: Arco e flechas, cervo, lua crescente, cães de caça, florestas.
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Função e caráter: Diana manteve muitos aspectos de Ártemis, sendo também uma deusa da proteção feminina e da natureza. Nos mitos romanos, Diana às vezes se confunde com Hécate, relacionada à magia e à noite.
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Culto: Um dos centros principais de seu culto era o santuário de Diana em Nemi, próximo ao lago de Nemi, chamado “Diana Nemorensis”, ligado a rituais de iniciação e à proteção da comunidade. Era uma das deusas mais veneradas na Roma antiga, especialmente por mulheres.
Enquanto Ártemis era mais ligada ao mito e ao simbolismo de caça e virgindade, Diana em Roma tinha forte função religiosa e política, especialmente como protetora da plebe e das mulheres.
E o que podemos falar sobre “leis sagradas” ou tabus associados à Diana dos romanos?
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Virgindade e Pureza – Assim como Ártemis, Diana era virgem e exigia castidade de suas sacerdotisas.
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Proteção da Lua e da Noite – Era guardiã dos viajantes noturnos e dos ciclos lunares, devendo ser invocada com ritos em noites de lua cheia.
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Defesa das Mulheres e dos Escravos – Seu templo no Monte Aventino, em Roma, era um asilo sagrado, onde escravos fugitivos e pessoas perseguidas podiam encontrar proteção. Essa era uma “lei” central do culto a Diana.
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Rituais em Nemorália – Na festa da Nemorália (13 de agosto), todos deviam respeitar três proibições:
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Não caçar;
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Não derramar sangue;
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Honrar a deusa com tochas, coroas de flores e procissões ao redor do lago de Nemi.
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Lei da Floresta Sagrada – O bosque de Nemi, próximo ao templo de Diana, era intocável. Desrespeitar a floresta era violar a deusa.
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Lei do Rei do Bosque (Rex Nemorensis) – Um costume único: o sacerdote de Diana em Nemi só assumia o posto matando seu predecessor em combate. Era uma lei ritual de sucessão sangrenta, que simbolizava a força selvagem da deusa.
3. Comparação resumida
| Aspecto | Ártemis (Grega) | Diana (Romana) |
|---|---|---|
| Pai | Zeus | Zeus (assimilado), Leto |
| Irmão | Apolo | Apolo (assimilado) |
| Domínio principal | Caça, lua, virgindade, proteção infantil | Caça, lua, virgindade, fertilidade, proteção feminina |
| Símbolos | Arco e flechas, veado, cão, lua | Arco e flechas, veado, cães, lua |
| Culto principal | Templos em Éfeso e outras cidades | Santuário de Diana em Nemi |
| Caráter | Independente, protetora e vingativa | Protetora, ligada à natureza e à fertilidade |
Ártemis
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Origem: Grega.
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Significado possível: A etimologia não é totalmente clara, mas há algumas teorias:
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“Artemesia” ou “Artemisios”, relacionado a “segura”, “cuidado” ou “saudável” — refletindo seu papel de protetora da vida e da saúde.
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Possível conexão com a palavra “artemes”, que significa “intacta” ou “inviolada”, associando-se à sua virgindade e pureza.
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Interpretação: Seu nome reflete seu caráter de deusa protetora, associada à vida, à natureza e à virgindade.
Diana
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Origem: Romana.
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Significado: O nome pode derivar da raiz latina “diviana”, que significa “celestial” ou “divina”.
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Interpretação: Reforça seu caráter de deusa ligada à lua, à luz celestial e à natureza sagrada, sendo considerada protetora das mulheres e da fertilidade.
Para descontrair: Se as leis das duas deusas, à semelhança do relato bíblico sobre a lei de Moisés, fossem colocadas em tábuas, será que seriam assim?
Imagem gerada por IA |
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