E agora, vamos falar de mitos? #0082

O que são e para que servem os mitos?

Desde os tempos mais antigos, os seres humanos contam histórias para compreender o mundo e a si mesmos. Essas histórias, transmitidas de geração em geração, são os mitos. 

Longe de serem apenas fantasias ou meros entretenimentos, os mitos funcionam como verdadeiras ferramentas culturais e psicológicas: organizam conhecimentos, valores e emoções, ajudando sociedades a encontrar sentido para a existência.

Antes de avançarmos, algumas definições de mito, encontradas em dicionários diversos e em livros de autores especialistas em mitologia:

Mito é uma narrativa tradicional de uma cultura, geralmente envolvendo deuses, heróis ou fenômenos sobrenaturais, que explica a origem do mundo, a natureza das coisas ou costumes humanos.

Mito é uma história tradicional que expressa valores, crenças e experiências humanas por meio de personagens e eventos exemplares.

Narrativa que explica aspectos fundamentais da condição humana e do universo, frequentemente com deuses ou heróis lendários.

Mito é instrumento pelo qual uma cultura organiza suas experiências e  conflitos, fornecendo um quadro simbólico para compreender a realidade.

Mito é a história sagrada que relata o surgimento do mundo, dos deuses e dos homens, oferecendo modelos para a ação e para a vida.

Todas essas vozes apontam na mesma direção: os mitos não são apenas “histórias antigas”, mas mapas de sentido que ajudam as pessoas a integrar fatos, valores e emoções em narrativas marcantes.

Antes da ciência, o mito explicava o mundo...

Muito antes da ciência moderna, o mito era a principal linguagem para explicar os fenômenos naturais e os ciclos da vida.

O mito de Deméter e Perséfone, por exemplo, respondia à pergunta sobre a mudança das estações. Quando Perséfone descia ao submundo, Deméter entristecia e a terra se tornava estéril, trazendo o inverno; quando a filha retornava, a deusa sorria novamente e a primavera florescia.

Histórias semelhantes brotavam em várias culturas: Píramo e Tisbe, amantes trágicos, explicavam por que algumas romãs são vermelhas, tingidas pelo sangue dos jovens que se amaram até a morte. Assim, os mitos davam forma e emoção a tudo o que era misterioso ou assustador.

Guias para viver em sociedade 

Além de explicar a natureza, os mitos ensinavam como viver. Eram lições éticas e sociais transmitidas em forma de narrativa.

O centauro Quíron, mestre de heróis, simboliza sabedoria, disciplina e altruísmo. As façanhas de Héracles (Hércules), por sua vez, exaltam a coragem, o esforço e a superação diante das dificuldades.

Cada mito funcionava como um espelho do que uma cultura considerava certo ou errado, orientando comportamentos individuais e coletivos.

Conexão com o sagrado 

Os mitos também eram pontes entre o humano e o divino. Justificavam cultos, rituais e festas religiosas, conectando a prática espiritual a um significado profundo.

Os mitos de Dionísio, deus do vinho, explicavam celebrações cheias de dança, música e êxtase. Já a tragédia de Orfeu e Eurídice falava da música como força capaz de atravessar a morte, oferecendo consolo diante da perda.

Nesse sentido, mito e ritual formavam uma unidade inseparável: o primeiro dava sentido ao segundo, e o segundo mantinha vivo o primeiro.

O mito como espelho da alma 

Com o tempo, estudiosos perceberam que os mitos também falam da psique humana. Carl Gustav Jung mostrou como eles expressam emoções, traumas e dilemas universais, funcionando como espelhos simbólicos da vida interior.

O mito de Quíron, o curador ferido, lembra que nossas próprias dores podem se transformar em caminhos de cura para os outros. Já a história de Eco e Narciso explora temas como amor, rejeição e autoconhecimento, tão atuais hoje quanto na Antiguidade.

Memória coletiva e identidade 

Por fim, os mitos são também guardiões da memória de um povo. Eles registram e perpetuam identidades culturais, morais e históricas.

A Eneida, de Virgílio, não é apenas literatura: é a narrativa mítica da fundação de Roma, exaltando coragem, dever e lealdade como virtudes centrais do povo romano.

Assim, mito é mais do que um relato antigo: é identidade, memória e horizonte de futuro.

Em suma, os mitos explicam o mundo, ensinam como viver, conectam com o divino, revelam a alma humana e preservam a memória coletiva. Eles sobrevivem porque falam de algo universal: a necessidade humana de encontrar sentido.

Em outras palavras, contar mitos é contar a nós mesmos. Enquanto houver perguntas sobre quem somos e de onde viemos, haverá mitos a serem contados.

Nas próximas publicações, vamos percorrer algumas dessas narrativas, comparando-as também com tradições religiosas que moldaram nossa visão de mundo. 

Me acompanha?

 


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