Hades / Plutão senhor do submundo e do reino dos mortos #0098

Hades

  Hades, senhor do submundo, reinava em silêncio absoluto sobre seu reino invisível, um lugar de sombras e rios escuros, onde a luz do sol nunca penetrava. Seu trono erguia-se no coração do Tártaro, cercado por murmúrios de almas e pelo vigia implacável de Cérbero, o cão de três cabeças. 

    Ele não conhecia a vaidade nem o capricho dos deuses do Olimpo; sua autoridade era firme, justa e inevitável. Cada alma que chegava ao submundo sabia que não poderia escapar, e Hades a recebia com impassibilidade, cumprindo seu papel de guardião do destino e da ordem.

Perséfone
    Um dia, ao contemplar a superfície da terra, seus olhos se fixaram em Perséfone, filha de Deméter, cuja juventude e luz o atraíam de maneira que nenhum outro mortal ou divino jamais havia feito. 

    Movido por um desejo silencioso e inexorável, ele emergiu de seu reino subterrâneo numa carruagem escura e levou a jovem para seu palácio de ébano, transformando para sempre os ciclos da terra. 

Deméter
  A ausência de Perséfone mergulhou Deméter em desespero; a deusa da fertilidade deixou
que os campos se tornassem estéreis, os rios secassem e a fome se espalhasse entre os mortais.

    Mesmo assim, Hades não era cruel por prazer. Ele ofereceu a Perséfone tudo que podia dar: segurança, respeito e um lugar de poder ao seu lado. E embora a escuridão de seu reino parecesse eterna, a presença de Perséfone introduziu uma luz tênue, uma promessa de renovação e equilíbrio. Júpiter, preocupado com o sofrimento dos mortais, interveio, e um acordo foi selado: Perséfone passaria parte do ano com Hades e parte do ano com sua mãe. Assim, a fertilidade retornava à terra quando ela estava na superfície, e a esterilidade surgia durante sua ausência, refletindo o luto silencioso de Deméter e a inevitabilidade da morte que Hades personificava.

Hades, porém, continuava além do julgamento humano, além da dor e da alegria dos deuses. Ele representava a lei inexorável do fim, mas também a fertilidade oculta, a riqueza da terra que cresce abaixo da superfície e os ciclos que os vivos muitas vezes não compreendem. Sua presença lembrava que a vida e a morte não estão separadas, mas entrelaçadas, e que a ordem do mundo depende de que cada um cumpra seu papel, visível ou invisível. No silêncio de seu reino, Hades era absoluto, impassível, e, paradoxalmente, necessário para que a vida florescesse sobre a terra.

Cérbero - Aquarela de William Blake


***

Falando um pouco do deus do submundo,  Hades é filho dos titãs Cronos e Reia, irmão de Zeus, Poseidon, Hera, Deméter e Héstia. 

Após derrotarem os titãs, os irmãos dividiram o mundo: Zeus ficou com o céu, Poseidon com o mar, e Hades com o submundo, o reino dos mortos. Diferentemente de muitos deuses do Olimpo, Hades raramente descia ao mundo dos vivos, e os mortais o temiam, mas não o odiavam necessariamente. Ele presidia o ciclo da vida após a morte e mantinha a ordem entre os vivos e os mortos.

O nome “Hades” significa literalmente “o invisível”, refletindo sua associação com o mundo que está fora da visão dos vivos. Ele também é chamado de Plutão (Plouton), especialmente na tradição romana e nos cultos de mistérios, como os de Elêusis, quando se enfatizava seu aspecto de deus da riqueza da terra — ouro, metais e grãos — já que tudo que cresce na terra depende do seu domínio subterrâneo.


Atributos e símbolos

  • Símbolos principais: cetro, coroas, capuz da invisibilidade (capiroto), o cão de três cabeças Cérbero, moedas (para pagar o transporte das almas pelo rio Estige).

  • Animais associados: cão, serpente, cavalo (às vezes ligado à fertilidade subterrânea).

  • Objetos: seu capuz de invisibilidade e o trono negro, que reforçam seu caráter severo e impassível.

Hades não é retratado como cruel, mas sim como firme e justo. Ele mantém a ordem no submundo, separando os bons dos maus, embora nem sempre de maneira explícita — o submundo era dividido em regiões, como os Campos Elísios (para os virtuosos), o Asfódelo (para almas comuns) e o Tártaro (para os condenados).


Principais mitos

  1. O rapto de Perséfone:

    • Hades se apaixona por Perséfone e a leva para o submundo.

    • Este mito simboliza a morte e o renascimento da natureza, a inexorabilidade do ciclo de vida e a ligação entre fertilidade e submundo.

    • Hades é severo, mas cumpre seu papel de guardião do destino, respeitando o pacto que permite a volta de Perséfone por parte do ano.

  2. Relação com os vivos:

    • Mortais raramente o invocavam diretamente, exceto em contextos funerários ou de rituais relacionados à morte.

    • Hades podia ser invocado de forma apotropaica, para afastar a morte prematura ou proteger a terra e os túmulos.

  3. Aspecto romano — Plutão:

    • Na tradição romana, Plutão era mais associado à riqueza da terra (minerais e colheitas).

    • Ele mantinha uma relação ambivalente: protetor da prosperidade, mas sempre lembrando que toda riqueza tem preço e que a morte é inevitável.


Simbolismo

  • Hades representa a inevitabilidade da morte, mas também a fertilidade subterrânea, a riqueza da terra e o equilíbrio entre vida e morte.

  • Ele é um lembrete de que o ciclo natural não pode ser interrompido e que a morte não é apenas fim, mas também parte da regeneração da vida.

  • Diferente de deuses como Zeus ou Ares, ele não busca controle ou glória; sua autoridade é silenciosa, impassível e absoluta, refletindo a ordem inexorável do universo.

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