Os Deuses do Olimpo hoje, hoje, hoje mesmo... #00105

Se outrora os deuses do Olimpo moldavam os destinos dos mortais com paixões, guerras, fertilidades e sabedorias, hoje eles retornam sob outras formas: como forças arquetípicas, sistemas simbólicos e dinâmicas sociais que continuam a agir sobre nós. 

A leitura de suas manifestações nos céus, traduzidas pelos astros, não é profecia, mas metáfora do que a humanidade precisa encarar para crescer.

O Olimpo não está fora de nós, mas condensado nas tensões da vida coletiva. Afrodite, Ártemis, Atena, Ares, Deméter, Zeus, Cronos, Urano, Netuno e Plutão são forças vivas que pedem consciência, responsabilidade e coragem. Cada planeta em sua posição lembra que os mitos continuam pulsando: eles não são passado, mas presente.

O que os deuses exigem da contemporaneidade é simples e radical: que transformemos instinto em consciência, paixão em criação, fúria em coragem, sonho em prática, poder em justiça. Que o Olimpo deixe de ser apenas céu distante e se torne horizonte ético para a humanidade em transformação.

Nos mitos gregos, os deuses não eram apenas entidades distantes, mas projeções de forças universais que também habitam os mortais.

Afrodite criava e destruía pelo amor e pelo desejo; Ártemis protegia e punia pela liberdade e pela castidade; Atena guiava e instruía com inteligência e estratégia; Deméter sustentava e lembrava da importância da vida e da fertilidade; e Ares, com sua fúria, revelava a violência inerente às disputas humanas.

Hoje, no século XXI, essas forças continuam atuando — não mais sob a forma de deuses, mas de sistemas, instituições e práticas sociais. Clifford Geertz (1973) observou que a cultura é um sistema simbólico que confere sentido e ordem à existência; Jean-Pierre Vernant (1990) mostrou que os deuses condensam tensões coletivas. Assim, o Olimpo moderno se revela nas redes, nos mercados, nas guerras e nas decisões políticas — espaços onde os deuses antigos continuam a disputar a alma humana.

Afrodite hoje governa as redes sociais e a economia da atenção: a sedução e o desejo tornaram-se mercadorias. Ártemis aparece nas lutas por autonomia, na defesa da privacidade e dos corpos. Atena orienta a diplomacia climática e o pensamento estratégico diante do colapso. Deméter manifesta-se na crise ecológica e na fome que volta a assombrar o planeta. Ares, por sua vez, domina a cena global: da polarização política às guerras abertas, sua fúria molda o destino dos povos.

Esses paralelos mostram que o Olimpo nunca desapareceu — apenas mudou de forma. O que antes era expresso em mitos, hoje se expressa em economias, ideologias e redes. O risco é o mesmo: deixar que forças inconscientes nos arrastem. O aprendizado também é o mesmo: reconhecer os deuses dentro de nós e transformá-los em aliados. Jung (1964) chamaria isso de individuação — o processo de tornar-se inteiro, consciente das próprias forças arquetípicas.

Os mitos são, portanto, guias de autoconhecimento coletivo. Quando reconhecemos Afrodite em nossa criatividade, Ártemis em nossa autonomia, Atena em nossa sabedoria, Deméter em nosso cuidado com a Terra e Ares em nossa coragem, transformamos instinto em sabedoria, caos em harmonia. O Olimpo não está acima das nuvens, mas pulsa no coração humano e no corpo social.


O novo dilúvio

Mas quando essas forças se desequilibram, o mito se repete.

O dilúvio de Zeus, na Antiguidade, destruiu a humanidade corrompida para restaurar a ordem. O dilúvio de hoje não vem das chuvas, mas da indiferença. Ele se manifesta em mares de fome, em desertos de compaixão.

Em Gaza, o alimento se transforma em arma, e a água — símbolo da vida — é negada até tornar-se instrumento de morte. O “dilúvio” moderno é humano: feito não por deuses, mas por homens que se acreditam deuses.

Ares reina sem Atena, e Deméter é silenciada sob os escombros. Ártemis chora pelas crianças caçadas como feras; Afrodite não encontra espelho onde se veja amor.

O que outrora era castigo divino tornou-se reflexo humano.


O dilúvio agora nasce de dentro: da incapacidade de reconhecer o outro como parte do mesmo cosmos. A guerra, a fome e o cerco revelam que o Olimpo está em desequilíbrio — não acima de nós, mas dentro de nós.

Os deuses, se falam, pedem apenas uma coisa: consciência.


Que Zeus aprenda a conter seu raio, que Ares escute Atena, que Deméter volte a nutrir o solo humano.


O verdadeiro paraíso terrestre não é uma utopia distante, mas o instante em que as forças se equilibram — quando o poder se converte em justiça, a paixão em compaixão, a sobrevivência em solidariedade.





Só então esse dilúvio cessará.

E a Terra, lavada não de corpos, mas de egoísmos, poderá florescer novamente.





Os mitos se repetem porque esquecemos que somos parte deles.

O castigo já não vem dos deuses — vem de nós.



Somos Zeus e Licaão, somos o raio e a ruína.

E o que era metáfora tornou-se tragédia.

Mas ainda há um caminho.


Quando Atena escutar Ares, quando Afrodite consolar Deméter, quando Zeus aprender a conter sua fúria, então o dilúvio cessará.


E talvez, nesse instante, o paraíso terrestre — o ponto onde todas as forças se equilibram — se revele silencioso dentro de nós.









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